Houve no Brasil, a partir da promulgação do [novo] Código de Processo Civil (CPC), introdução de novos mecanismos no ordenamento jurídico brasileiro para assegurar a integridade das decisões e qualificar o sistema de precedentes no Brasil.
Ilustra a nova ‘onda renovatória’ dos precedentes do Código o art. 489, §1º, VI, do CPC, que dispõe que “não se considera fundamentada qualquer decisão judicial, seja ela interlocutória, sentença ou acórdão, que, inter alia, deixar de seguir enunciado de súmula, jurisprudência ou precedente invocado pela parte, sem demonstrar a existência de distinção no caso em julgamento ou a superação do entendimento”.
Para Daniel Neves (Manual de Direito Processual Civil, p. 1390), precedente é “qualquer julgamento que venha a ser utilizado como fundamento de um outro julgamento que venha a ser posteriormente proferido”, desde que “transcend[a] o caso concreto” e que não “se limit[e] a aplicar a letra da lei”.
Embora, porém, o art. 489, se refira genericamente a “precedente”, a doutrina propõe uma “redução teleológica” do artigo, afirmando que “os precedentes a que se referem os incisos V e VI do § 1º do art. 489 do CPC/2015 são apenas os mencionados no art. 927 e no inciso IV do art. 332” (Enunciado 11/ENFAM). Neste sentido, Daniel Neves afirma que “o inciso VI do § 1° do art. 489 do Novo CPC não se aplica a súmulas e precedentes meramente persuasivos'', porque nesse caso o juiz pode simplesmente deixar de aplicá-los por discordar de seu conteúdo, não cabendo exigir-se qualquer distinção ou superação que justifique sua decisão”.
Essa interpretação, nada obstante defensiva, reduz racionalmente o ônus argumentativo das decisões, que, levado ao máximo, inviabilizaria a própria atividade jurisdicional. Isso porque inúmeras decisões são proferidas, diariamente, pelos milhares de juízes brasileiros, de modo que seria impraticável requerer que o processo decisória passasse por uma pan-consideração de quaisquer julgamentos e decisões relacionadas. Neste sentido, ainda, artigo de Daniel Penteado. Por outro lado, restringir o dispositivo pode desvirtuar a mens legis do artigo. Em julgado recente, porém, o Superior Tribunal de Justiça do Brasil decidiu, alinhado à interpretação doutrinária e reafirmando orientação anterior (REsp 1.698.774/RS), que a “indicação de julgado simples e isolado não ostenta a natureza jurídica de ‘súmula, jurisprudência ou precedente’ para fins de aplicação do art. 489, § 1º, VI, do CPC”.
Disse ainda que “a interpretação sistemática do CPC, notadamente a leitura do art. 927, que dialoga diretamente com o art. 489, evidencia que “precedente” abarca somente os casos julgados na forma qualificada pelo primeiro comando normativo citado, não tendo o termo abarcado de maneira generalizada qualquer decisão judicial”. Portanto, “a indicação de julgado simples e isolado não ostenta a natureza jurídica de “súmula, jurisprudência ou precedente” para fins de aplicação do art. 489, §1º, VI, do CPC”. STJ. 1ª Turma. AREsp 1267283-MG, Rel. Min. Gurgel de Faria, julgado em 27/09/2022 (Info 760).
Problema é que, na situação ilustrada, o Tribunal de origem deixou de aplicar decisão anterior relativa a uma situação jurídica idêntica, dissentindo de sua própria decisão anterior e nada dizendo a respeito da mudança de rumos interpretativos. Inconveniente semelhante pode ocorrer na hipótese na qual um juiz ou qualquer outro órgão julgador divirja de orientação sua de maneira pontual/circunstancial sem justificativa argumentativa para a divergência.
De que maneira, portanto, justificar a inaplicabilidade do art. 489, §1º, VI, do CPC, nas hipóteses indicadas, e de que maneira assegurar, nessas situações, a manutenção de uma jurisprudência estável, íntegra e coerente?
Parece mais adequado reputar, portanto, que há na situação indicada uma omissão decisória baseada no art. 489, §1º, IV, do CPC, que afirma ser deficitariamente fundamentada a decisão judicial que “não enfrentar todos os argumentos deduzidos no processo capazes de, em tese, infirmar a conclusão adotada pelo julgador”.
Nas situações de dissidência interna, nas quais o próprio órgão judicante ignora sua decisão anterior, nada dizendo sobre isso, a omissão independe da definição de “precedente vinculante”, mas de uma noção elementar de dever de integridade e de isonomia judiciais. Para Lenio Streck, afinal, “o respeito à coerência e integridade [é um dos] princípios que constituem o “minimum aplicandi” na decisão judicial”, e isso independe do alcance que se pretenda atribuir à ideia de precedentes. Isso porque “a coerência impõe o dever de autorreferência” (Fredie Didier Jr.), o dever de dialogar com os precedentes anteriores, de assegurar a cadeia dworkiniana do romance.
Desde la promulgación del [nuevo] Código de Proceso Civil (CPC), se han introducido nuevos mecanismos en el sistema jurídico brasileño para garantizar la integridad de las decisiones y calificar el sistema de precedentes en Brasil.
Un ejemplo de la nueva "ola de renovación" de los precedentes en el Código es el art. 489, §1, VI, del CPC, que establece que "no se considera justificada toda decisión judicial, sea interlocutoria, sentencia o decisión, que, entre otras cosas, no siga un precedente, jurisprudencia o antecedente invocado por la parte, sin demostrar la existencia de una distinción en el caso juzgado o la superación del entendimiento".
Para Daniel Neves (Manual de Derecho Procesal Civil, p. 1390), precedente es "toda sentencia que servirá de base a otra que se dictará posteriormente", siempre que "trascienda el caso concreto" y no se "limite a aplicar la letra de la ley".
Aunque, sin embargo, el art. 489 se refiera genéricamente al "precedente", la doctrina propone una "reducción teleológica" del artículo, afirmando que "los precedentes a que se refieren los incisos V y VI del § 1º del art. 489 del CPC/2015 son solamente los mencionados en el art. 927 y en el inciso IV del art. 332" (Enunciado 11/ENFAM). En este sentido, Daniel Neves afirma que "el inciso VI del § 1 del art. 489 del Nuevo CPC no se aplica a los precedentes y precedentes meramente persuasivos", porque en este caso el juez puede simplemente no aplicarlos porque no está de acuerdo con su contenido, y no se requiere ninguna distinción o superación para justificar su decisión".
Esta interpretación, aunque defensiva, reduce racionalmente la carga argumentativa de las decisiones, que, llevada al máximo, haría inviable la propia actividad judicial. Esto se debe a que innumerables decisiones son dictadas, diariamente, por los miles de jueces brasileños, por lo que sería poco práctico exigir que el proceso de toma de decisiones pase por una pan-consideración de todas las sentencias y decisiones relacionadas. En este sentido, también, artículo de Daniel Penteado.
Por otro lado, restringir la disposición puede desvirtuar la mens legis del artículo. En una reciente decisión, sin embargo, el Tribunal Superior de Justicia de Brasil decidió, en consonancia con la interpretación doctrinal y reafirmando una orientación anterior (Recurso Especial 1.698.774/RS), que la "indicación de una decisión simple y aislada no tiene la naturaleza jurídica de 'precedente, jurisprudencia o antecedente' a los efectos de la aplicación del art. 489, § 1, VI, del CPC".
Afirmó también que "la interpretación sistemática del CPC, en particular la lectura del art. 927, que dialoga directamente con el art. 489, muestra que 'precedente' abarca sólo los casos juzgados en la forma calificada por el primer mandato normativo citado, y que el término no abarca, de forma generalizada, cualquier decisión judicial". Por lo tanto, "la indicación de una sentencia simple y aislada no tiene la naturaleza jurídica de 'precedente' a los efectos de la aplicación del art. 489, §1, VI, del CPC". STJ. 1ª Sala. AREsp 1267283-MG, Relator Min. Gurgel de Faria, vista el 27/09/2022 (Info 760).
El problema es que, en la situación ilustrada, el Tribunal de origen dejó de aplicar una decisión anterior relativa a una situación jurídica idéntica, disintiendo de su propia decisión anterior y sin decir nada sobre el cambio de dirección interpretativa. Un inconveniente semejante puede ocurrir en la hipótesis en que un juez o cualquier otro órgano juzgador se aparta de su orientación de forma puntual/circunstancial sin que exista justificación argumentativa de la divergencia. ¿Cómo, por lo tanto, justificar la inaplicabilidad del art. 489, §1, VI, del CPC, en las hipótesis mencionadas, y cómo garantizar, en tales situaciones, el mantenimiento de una jurisprudencia estable, íntegra y coherente?
Parece más adecuado considerar, por lo tanto, que en la situación indicada hay una omisión de decisión basada en el art. 489, §1, IV, del CPC, que establece que una decisión judicial que "no aborda todos los argumentos presentados en el proceso capaces, en teoría, de refutar la conclusión adoptada por el juez" está deficientemente fundamentada.
En las situaciones de disenso interno, en las que el propio órgano judicial ignora su decisión anterior, sin decir nada al respecto, la omisión es independiente de la definición de "precedente vinculante", sino de una noción elemental del deber de integridad e isonomía judicial. Para Lenio Streck, después de todo, "el respeto de la coherencia y de la integridad [es uno de los] principios que constituyen el 'minimum applicandi' en las decisiones judiciales", y esto es independiente del alcance que se quiera atribuir a la idea de precedente. Esto se debe a que "la coherencia impone el deber de autorreferencia" (Fredie Didier Jr.), el deber de dialogar con los precedentes anteriores, para garantizar la novela en cadena dworkiniana.